segunda-feira, 24 de abril de 2017

DISCURSO PROFERIDO PELO PROFESSOR E MAGISTRADO ADEMAR MENDES BEZERRA AO ENSEJO DE SUA POSSE NA ACADEMIA SOBRALENSE DE ESTUDOS E LETRAS NA NOITE DO DIA VINTE E SEIS DE JUNHO DO ANO DE DOIS MIL E QUINZE ÀS DEZENOVE E TRINTA HORAS NA SEDE DA ASEL.

EXCELENTÍSSIMAS AUTORIDADES, MEUS FAMILIARES, MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES, DISTINTA ASSISTÊNCIA.

INTROITO. Antes de adentrar o  discurso propriamente dito desejo manifestar sinceros agradecimentos a todos os colegas que me escolheram, permitindo o meu ingresso nesta veneranda Academia Sobralense de Estudos e Letras, particularmente, os meus primos Arnaud e João Barbosa de Paula Pessoa Cavalcante e também os parentes e amigos Tereza Ribeiro Ramos Fonteles, Francisco Antônio Tomaz Ribeiro Ramos e Glória Giovanna de Saboya Mont’Alverne, incluindo o preclaro e conspícuo Professor Doutor José Luís de Araújo Lira, nosso atual Presidente, que teve papel deveras importante para o  meu ingresso neste Silogeu, nascido em Campo Grande, outrora Vila Nova D’El Rei, hoje Guaraciaba do Norte, em cuja terra fui gerado, vindo ao Mundo nesta  auspiciosa cidade de Sobral, na Praça da Independência 404, onde vivi os melhores anos de minha vida.

Neste dia Memorável em que ingresso na Academia Sobralense de Estudos e Letras, em cuja corporação intelectual conviveram as figuras mais notáveis da Cidade de Sobral, quer na antiga Academia Sobralense de Letras, fundada em três de maio de 1922, quanto na sua sucessora, ou seja, a atual Academia Sobralense de Estudos e Letras, tendo como fundadores respectivamente as seguintes personalidades: Padre Leopoldo Fernandes Pinheiro (Presidente), Mons. Fortunato Linhares, Jornalista Craveiro Filho, Doutores Cláudio Nogueira,  Lauro Meneses,   Paulo Aragão, Benjamin Hortêncio, Atualpa Barbosa de Lima, Luiz Viana, Ruy de Almeida Monte e José Clodoveu de Arruda Coelho. Por sua vez em data de sete de setembro de 1943, foi recriada a atual Academia Sobralense de Estudos e Letras - contando com novos acadêmicos de notória idoneidade moral e intelectual a seguir nomeados, de conformidade com os Estatutos da novel Arcádia fundada em 07.09.1943, sucessora da Academia de 1922, tendo como Fundadores: Monsenhor Vicente Martins da Costa, os Padres José Gerardo Ferreira Gomes, José Aloísio Pinto e Gonçalo Eufrásio, Doutores José Clodoveu de Arruda Coelho, Tancredo Halley de Alcântara e João Ribeiro Ramos, Professores Raimundo Aristides Ribeiro, Luiz Jácome Filho e Maurício Mamede Moreira, além dos cidadãos Antônio Joaquim Rodrigues de Almeida, saudoso Tabelião, sucedido por seu filho Edison Luís Rodrigues de Almeida, inclusive nesta Academia e Francisco Ferreira Costa.[1]Presidentes: Monsenhor Vicente Martins, autor de “HOMENS E VULTOS DE SOBRAL”, Dr. José Saboya de Albuquerque notável Magistrado e também político de expressão, Monsenhor José Gerardo Ferreira Gomes e outros luminares da ASEL.
A nossa quase centenária Academia Sobralense de Estudos e Letras foi a primeira a admitir o ingresso de intelectuais do sexo feminino em nosso Estado, bem antes da Academia Brasileira de Letras, na pessoa de D. Dinorá Thomaz Ramos[2], esposa do Dr. João Ribeiro Ramos, cognominado em Sobral de médico dos pobres não obstante farmacêutico, além de jornalista de escol, Professor e Diretor da tradicional Escola de Comércio D. José Tupinambá da Frota, e Imortal das Academias Sobralense e Cearense de Letras, sem falar na de Farmácia, como era de se esperar.
Dona Dinorá além de ter substituído na Diretoria do Educandário São José, D. Honorina Passos, foi igualmente Diretora do Ginásio São José, ambas as Instituições situadas na Praça da Independência, mais conhecida como Praça de São Francisco, em cujo logradouro nasci na Casa dos tios Potiguara e Fransquinha, precisamente no dia 23 de abril de 1943, sendo batizado pelo então Padre José Gerardo Ferreira Gomes, duplamente primo de meus avós maternos: (Antônio Enéas Pereira Mendes e Regina Saboya de Aragão Mendes), de quem fui aluno no Colégio Sobralense.

Dona Honorina irmã do Monsenhor Olavo Passos, nascidos na aprazível cidade de Viçosa do Ceará, terra do General Tibúrcio e de Clóvis Beviláqua, o primeiro um dos heróis da Batalha de Tuiuti e o último, autor do Projeto do Código Civil e Catedrático da Faculdade do Recife e mais tarde Membro da Academia Brasileira de Letras, os quais estudaram nesta aprazível cidade de Sobral, cumprindo destacar os notáveis conterrâneos Jerônimo Martiniano Figueira de Melo[3] e José Antônio Pereira Ibiapina[4], frise-se os únicos cearenses que colaram o grau de bacharel naPrimeira Turma da Academia de Olinda no ano de 1832, os quais foram inquestionavelmente figuras notáveis de nossa História, conforme registrado nas notas de rodapé. 
      Dona Dinorá já depois de avó resolveu ingressar na hoje mais que Centenária Faculdade de Direito, bacharelando-se com distinção. Sobrinha legítima do Príncipe dos Poetas Cearenses, Padre Antônio Thomaz[5], houve por bem de catalogar os sonetos do tio, muitos deles escritos e ditados de cor, em obediência à determinação do Poeta, que proibira a publicação dos seus magníficos sonetos, donde o trabalho hercúleo, os quais certamente teriam sido incluídos entre os melhores sonetos da Língua Portuguesa, selecionados por Dona Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos, natural de Berlim, então sob o Reino da Prússia, que se radicou em Portugal e se tornou escritora, crítica literária e Professora da notável Universidade de Coimbra, daí o seu encanto pela poesia lusitana.
José Sombra Filho Patrono da Cadeira nº 01 desta Academia Sobralense de Letras, da qual estou tomando posse, se destacou no Liceu do Ceará, quer como aluno, quanto no Magistério, sobretudo nas matérias lingüísticas e filosóficas, a par de sócio fundador da então “Sociedade Iracema Literária”. Não obstante ter se Bacharelado em Direito com louvor dada a sua formação intelectual, não quis abraçar a Advocacia, e muito menos a Magistratura, uma vez que desde os bancos escolares optou pela atividade acadêmica, daí o seu prestígio nessa área.
O Doutor José Sombra nasceu nacidade de Viena, a essa época Capital do Império Austríaco, justamente no dia 21 março de 1883, em cujo País, se achavam os seus genitores, Doutor José Correia Sombra e Dona Luisa da Cunha Sombra, em viagem de trabalho - daí a naturalidade brasileira. O Casal em alusão era originário da aprazível cidade de Maranguape[6], integrando ainda hoje a microrregião de Fortaleza.
Com o falecimento de seu pai, teve como preceptor, o Barão Guilherme Studart, médico, historiador e erudito homem de letras, o qual certamente contribuiu para a excelente formação cívica e intelectual do futuro literato, herdada também de seu progenitor, ilustrado esculápio especializado em Ginecologia, haja vista a sua tese nessa área e também versado nas letras. José Sombra segundo os biógrafos possuía o dom da oratória, tendo sido o “autor do Discurso proferido na Sessão Comemorativa da Fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil realizada no Liceu Cearense, justamente no dia 11 de Agosto de 1905, publicado na Tipografia Minerva do Ceará, como representante da classe acadêmica”.

Vítima de um abalroamento de veículos nas imediações do então Pavilhão Atlântico, localizado nas proximidades da Ponte Metálica, também conhecida como Ponte dos Ingleses, veio a óbito no dia vinte e um de abril de 1932. “A sociedade fortalezense de então foi presa de dor e de espanto com a trágica notícia, tanto que seu funeral foi verdadeiramente apoteótico”.[7] 
Da supracitada fonte, ou seja, do Jornalzinho do Bairro Parque Araxá –  JPA de janeiro de 2012, extrai o que  sobre ele (José Sombra) escreveu Antônio Sales, a figura mais expressiva da Padaria Espiritual: “Raras Vezes uma vida se havia apagado, no Ceará, assim tão eloqüentemente ungida pela unanimidade da mágoa”[8].
Em consonância com os Estatutos de nossas Academias de Letras, cumpre ao empossando registrar o Patrono e o último ocupante, podendo se o desejar, fazer referência àqueles saudosos colegas que o antecederam na Cátedra, o que façona pessoa do Dr. Joaquim Adauto de Araújo, cujo centenário foi comemorado por seus familiares, com o lançamento de sua biografia, escrita pelo seu filho, Professor Doutor Francisco Regis Frota Araújo, ocorrida no Ideal Clube de nossa Capital, no dia 28 de maio de 2015, com a presença da Família e dos amigos, sem falar na Colônia Sobralense.
O saudoso Mestre Evaristo Linhares Lima, Professor Titular de nossa Universidade, da qual foi Vice-Reitor e também Presidente desta venerável Academia Sobralense de Estudos e Letras nasceu em Santa Quitéria, cujo rincão tem estreita relação com Sobral, por força de já ter integrado o nosso Município, sem que possamos olvidar os laços familiares que temos com o nosso vizinho parceiro, haja vista as propriedades que margeiam o Rio Jacurutu, afluente do Acaraú, então pertencentes ao português João Pinto de Mesquita,  casado com dona Teresa de Oliveira Magalhães, irmã do sergipano Antônio Rodrigues Magalhães, esposo de dona Quitéria Marques de Jesus nascida no Siupé, distrito de São Gonçalo do Amarante, também chamada de Anacetaba, proprietários da Fazenda Caiçara, berço da civilização sobralense. A filha única do patriarca João Pinto de Mesquita casa-se com Vicente Alves da Fonseca, natural de Quixeramobim, tio legítimo de D. Guidinha do Poço[9] o qual se torna sogro de Francisco de Paula Pessoa, conhecido pela antonomásia de Senador dos Bois, irmão de Pessoa Anta um dos heróis da Confederação do Equador, sem falar no prestígio que esse ramo familiar ainda hoje desfruta, naantiga Fidelíssima Cidade Januária da Ribeira do Acaraú, de há muito a heráldica Cidade de Sobral.
Evaristo fez o primário em Santa Quitéria e o ginasial no Liceu do Ceará, ingressando no Seminário Arquidiocesano de Fortaleza, bacharelando-se em Filosofiana UECE e em Direito na UFC, concluindo sete cursos de Pós-Graduação, donde se pode inferir a sua vocação pelas letras, haja vista a sua larga experiência na área educacional, tendo exercido não menos de trinta e três cargos, destacando-se: Inspetor de Ensino no então Ministério de Educação e Cultura, Coordenador da Campanha de Aperfeiçoamento do Magistério do Ceará, Professor da Faculdade Católica de Filosofia do Ceará, Assessor do Departamento de Planejamento da Secretaria de Ensino Superior do MEC na Capital Federal, além de vários outros.
Graças ao seu descortino, proficiência e zelo, foi guindado à Vice-Reitoria da Universidade Vale do Acaraú e também à Academia Sobralense de Estudos e Letras, tendo participado de diversos cursos, seminários e congressos em suas viagens culturais, quer no Brasil, quanto no exterior, tendo conhecido diversos países da América do Sul, os Estados Unidos e a Europa, daí se podendo aquilatar o seu amor pelas letras, levando nossa Academia a escolhê-lo para integrar os seus quadros, vindo mais tarde a presidi-la. Deixou uma brilhante família no seu consórcio com dona Nilsa Brígido Linhares, ocorrido a 29 de março de 1949, nesta Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção,[10] ao que tudo indica descendente do notável Jornalista João Brígido dos Santos, Político (Deputado e Senador Estadual), Historiador, Professor do Liceu, fundador do Jornal Unitário e autor do notável livro “Ceará Homens e Fatos”.
Finalizando esta minha oração, quero assumir perante os colegas de Academia, Professores e Estudantes, enfim a todos os sobralenses de nascimento, quanto daqueles que adotaram esta Cidade como sua e engrandeceram-na com o seu trabalho, (esta terra querida de D. José Tupinambá da Frota e de tantos outros), que farei tudo o que estiver ao meu alcance, para cada vez mais enaltecer a Academia Sobralense de Estudos e Letras, além de pugnar pela Grandeza desta Heráldica Cidade de Sobral, já reconhecida aqui e alhures, haja vista as políticas públicas implementadas nesta urbe, as quais foram acolhidas pelo Ministério da Educação, diante da notoriedade e reconhecimento, inclusive de Organizações Internacionais.[11]

                    MUITO OBRIGADO.

[1]Genitor do saudoso Lustosa da Costa, exímio jornalista nascido na Paraíba e sobralense de coração, o qual foi homenageado pelo então prefeito Cid Ferreira Gomes, dando o seu nome ainda em vida, à Biblioteca Municipal de Sobral. 
[2]Clóvis Beviláqua fez tudo o que estava ao seu alcance para que fosse admitida intelectual feminina, uma vez que sua esposa, D. Amélia, preenchia todos os requisitos, mas por ser mulher, foi recusada por força estatutária, uma vez que a Academia Brasileira de Letras, seguidora da Academia Francesa, não permitia o ingresso de escritora. Anos depois foi afastado o tacanho entendimento, vindo a ser eleita para a ABL, a escritora cearense Rachel de Queiroz, por sinal descendente do casal Gabriel Augeri e Maria Magdalena Bocardi, precisamente do Padre Domingos Carlos de Saboya, trisavô da extraordinária escritora.
[3]Recusou o Baronato de Sobral, tendo sido o primeiro cearense a receber a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, a mais elevada Condecoração do Império do Brasil, Cavaleiro da Ordem da Rosa, sem falar na dignidade de Fidalgo e Cavaleiro da Casa Imperial, tendo sido Deputado e Senador do Império, Presidente das Províncias do Maranhão e do Rio Grande do Sul,  além de Ministro do Supremo Tribunal de Justiça.
[4]Celso Mariz, político, escritor e jornalista da Paraíba, cognominou o Padre Doutor José Antônio Pereira Ibiapina de Apóstolo do Nordeste, o qual se acha em processo de beatificação iniciada há vários anos através do Monsenhor Francisco Sadoc de Araújo, fundador da Universidade Vale do Acaraú - UVA e seu primeiro Reitor, além de Membro das Academias Cearense e Sobralense de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, a par de Historiador e autor da Cronologia Sobralense, obra de vulto composta de cinco volumes e de várias outras.
[5]O Padre Antônio Thomaz foi eleito o Príncipe dos Poetas Cearenses, em uma Eleição promovida pelo Jornal O POVO, encabeçada por Demócrito Rocha, reinando de 1925 a 1941. Até então os seus sonetos sequer tinham sido publicados.
[6]Apud Home – Fato Histórico – Acervo de Abelardo Montenegro- Fortaleza -  Cronologia Ilustrada de    Fortaleza.
[7]Extraído do pasquim do Bairro Parque Araxá - JPA de janeiro de 2012, postado por Juracy Mendonça.
[8]Idem, ibidem.
[9]Romance do escritor cearense Oliveira Paiva, cuja obra trata justamente do assassinato do marido de dona Guidinha, a mando dela.
[10] Do enlace nasceram: Julius Cícero, Thália Maria, Cyntia Maria, Ana Lídia, José Guilherme, Patrícia Helena, Nilsa e Sandra Linhares, além de Evaristo Linhares Lima Filho. D Nilsa faleceu no dia dois de 11.2012 e o Professor Evaristo Linhares Lima aos 26 dias do mês de abril de 2014.
 [11]]  Notícias extraídas da Internet via Google, no dia 23.06.2015.



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