DISCURSO
PROFERIDO PELO PROFESSOR E MAGISTRADO ADEMAR MENDES BEZERRA AO ENSEJO DE SUA
POSSE NA ACADEMIA SOBRALENSE DE ESTUDOS E LETRAS, NA NOITE DO DIA VINTE E SEIS
DE JUNHO DO ANO DE DOIS MIL E QUINZE ÀS DEZENOVE E TRINTA HORAS NA SEDE DA
ASEL.
EXCELENTÍSSIMAS
AUTORIDADES,MEUS FAMILIARES, MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES, DISTINTA
ASSISTÊNCIA.
INTROITO.
Antes de adentrar no discurso propriamente dito desejo manifestar sinceros
agradecimentos a todos os colegas que me escolheram, permitindo o meu ingresso
nesta veneranda Academia Sobralense de Estudos e Letras, particularmente, os
meus primos Arnaud e João Barbosa de Paula Pessoa Cavalcante e também os
parentes e amigos Tereza Ribeiro Ramos Fonteles, Francisco Antônio Tomaz
Ribeiro Ramos e Glória Giovanna de Saboya Mont’Alverne, incluindo o preclaro e
conspícuo Professor Doutor José Luís de Araújo Lira, nosso atual Presidente,
que teve papel deveras importante para o
meu ingresso neste Silogeu, nascido em Campo Grande, outrora Vila Nova
D’El Rei, hoje Guaraciaba do Norte, em cuja terra fui gerado, vindo ao Mundo
nesta auspiciosa cidade de Sobral, na
Praça da Independência 404, onde vivi os melhores anos de minha vida.
Neste dia Memorável em que ingresso na
Academia Sobralense de Estudos e Letras, em cuja corporação intelectual
conviveram as figuras mais notáveis da Cidade de Sobral, quer na antiga
Academia Sobralense de Letras, fundada em três de maio de 1922, quanto na sua
sucessora, ou seja, a atual Academia Sobralense de Estudos e Letras, tendo como
fundadores respectivamente, as
seguintes personalidades: Padre Leopoldo Fernandes Pinheiro (Presidente), Mons.
Fortunato Linhares, Jornalista Craveiro Filho, Doutores Cláudio Nogueira, Lauro Meneses, Paulo Aragão, Benjamin Hortêncio, Atualpa
Barbosa de Lima, Luiz Viana, Ruy de Almeida Monte e José Clodoveu de Arruda
Coelho. Por sua vez em data de sete de setembro de 1943, foi
recriada a atual Academia Sobralense de Estudos e Letras - contando com novos
acadêmicos de notória idoneidade moral e intelectual a seguir nomeados, de
conformidade com os Estatutos
da novel Arcádia fundada em 07.09.1943, sucessora da Academia de 1922, tendo
como Fundadores: Monsenhor Vicente Martins da Costa, os Padres José Gerardo
Ferreira Gomes, José Aloísio Pinto e Gonçalo Eufrásio, Doutores José Clodoveu
de Arruda Coelho, Tancredo Halley de Alcântara e João Ribeiro Ramos,
Professores Raimundo Aristides Ribeiro, Luiz Jácome Filho e Maurício Mamede
Moreira, além dos cidadãos Antônio Joaquim Rodrigues de Almeida, saudoso
Tabelião, sucedido por seu filho Edison Luís Rodrigues de Almeida, inclusive
nesta Academia e Francisco Ferreira Costa.[1]
Presidentes: Monsenhor Vicente Martins, autor de “HOMENS E VULTOS DE SOBRAL”,
Dr. José Saboya de Albuquerque notável Magistrado e também político de
expressão, Monsenhor José Gerardo Ferreira Gomes e outros luminares da ASEL.
A
nossa quase centenária Academia Sobralense de Estudos e Letras foi a primeira a
admitir o ingresso de intelectuais do sexo feminino em nosso Estado, bem antes
da Academia Brasileira de Letras, na pessoa de D. Dinorá Thomaz Ramos[2],
esposa do Dr. João Ribeiro Ramos, cognominado em Sobral de médico dos pobres
não obstante farmacêutico, além de jornalista de escol, Professor e Diretor da
tradicional Escola de Comércio D. José Tupinambá da Frota, e Imortal das
Academias Sobralense e Cearense de Letras, sem falar na de Farmácia, como era
de se esperar.
Dona
Dinorá além de ter substituído na Diretoria do Educandário São José, D. Honorina
Passos, foi igualmente Diretora do Ginásio São José, ambas as Instituições
situadas na Praça da Independência, mais conhecida como Praça de São Francisco,
em cujo logradouro nasci na Casa dos tios Potiguara e Francisquinha,
precisamente no dia 23 de abril de 1943, sendo batizado pelo então Padre José
Gerardo Ferreira Gomes, duplamente primo de meus avós maternos Antônio Enéas
Pereira Mendes e Regina Saboya de Aragão Mendes, de quem fui aluno no Colégio
Sobralense.
Dona
Honorina irmã do Monsenhor Olavo Passos, nascidos na aprazível cidade de Viçosa
do Ceará, terra do General Tibúrcio e de Clóvis Beviláqua, o primeiro um dos
heróis da Batalha de Tuiuti e o último, autor do Projeto do Código Civil e
Catedrático da Faculdade do Recife e mais tarde Membro da Academia Brasileira
de Letras, os quais estudaram nesta aprazível cidade de Sobral, cumprindo
destacar os notáveis conterrâneos Jerônimo Martiniano Figueira de Melo[3] e
José Antônio Pereira Ibiapina[4],
frise-se os únicos cearenses que colaram o grau de bacharel na Primeira Turma
da Academia de Olinda no ano de 1832, os quais foram inquestionavelmente
figuras notáveis de nossa História, conforme registrado nas notas de
rodapé.
Dona Dinorá já depois de avó resolveu
ingressar na hoje mais que Centenária Faculdade de Direito, bacharelando-se com
distinção. Sobrinha legítima do Príncipe dos Poetas Cearenses, Padre Antônio
Thomaz[5],
houve por bem de catalogar os sonetos do tio, muitos deles escritos e ditados
de cor, em obediência à determinação do Poeta, que proibira a publicação dos
seus magníficos sonetos, donde o trabalho hercúleo, os quais certamente teriam
sido incluídos entre os melhores sonetos da Língua Portuguesa, selecionados por
Dona Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos, natural de Berlim, então sob o
Reino da Prússia, que se radicou em Portugal e se tornou escritora, crítica
literária e Professora da notável Universidade de Coimbra, daí o seu encanto
pela poesia lusitana.
José
Sombra Filho Patrono da Cadeira nº 01 desta Academia Sobralense de Letras, da
qual estou tomando posse, se destacou no Liceu do Ceará, quer como aluno,
quanto no Magistério, sobretudo nas matérias lingüísticas e filosóficas, a par
de sócio fundador da então “Sociedade Iracema Literária”. Não obstante ter se Bacharelado
em Direito com louvor dada a sua formação intelectual, não quis abraçar a
Advocacia, e muito menos a Magistratura, uma vez que desde os bancos escolares
optou pela atividade acadêmica, daí o seu prestígio nessa área.
O
Doutor José Sombra nasceu na cidade de Viena, a essa época Capital do Império
Austríaco, justamente no dia 21 março de 1883, em cujo País, se achavam os seus
genitores, Doutor José Correia Sombra e Dona Luisa da Cunha Sombra, em viagem
de trabalho - daí a naturalidade brasileira. O Casal em alusão era originário
da aprazível cidade de Maranguape[6],
integrando ainda hoje a microrregião de Fortaleza.
Com
o falecimento de seu pai, teve como preceptor, o Barão Guilherme Studart,
médico, historiador e erudito homem de letras, o qual certamente contribuiu
para a excelente formação cívica e intelectual do futuro literato, herdada
também de seu progenitor, ilustrado esculápio especializado em Ginecologia,
haja vista a sua tese nessa área e também versado nas letras. José Sombra segundo os biógrafos
possuía o dom da oratória, tendo sido o “autor do Discurso proferido na Sessão
Comemorativa da Fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil realizada no Liceu
Cearense, justamente no dia 11 de Agosto de 1905, publicado na Tipografia
Minerva do Ceará, como representante da classe acadêmica”.
Vítima
de um abalroamento de veículos nas imediações do então Pavilhão Atlântico,
localizado nas proximidades da Ponte Metálica, também conhecida como Ponte dos
Ingleses, veio a óbito no dia vinte e um de abril de 1932. “A sociedade
fortalezense de então foi presa de dor e de espanto com a trágica notícia,
tanto que seu funeral foi verdadeiramente apoteótico”.[7]
Da
supracitada fonte, ou seja, do Jornalzinho do Bairro Parque Araxá – JPA de janeiro de 2012, extrai o que sobre ele (José Sombra) escreveu Antônio
Sales, a figura mais expressiva da Padaria Espiritual: “Raras Vezes uma vida se
havia apagado, no Ceará, assim tão eloqüentemente ungida pela unanimidade da
mágoa”[8].
Em
consonância com os Estatutos de nossas Academias de Letras, cumpre ao
empossando registrar o Patrono e o último ocupante, podendo se o desejar, fazer
referência àqueles saudosos colegas que o antecederam na Cátedra, o que façona
pessoa do Dr. Joaquim Adauto de Araújo, cujo centenário foi comemorado por seus
familiares, com o lançamento de sua biografia, escrita pelo seu filho, Professor
Doutor Francisco Regis Frota Araújo, ocorrida no Ideal Clube de nossa Capital,
no dia 28 de maio de 2015, com a presença da Família e dos amigos, sem falar na
Colônia Sobralense.
O
saudoso Mestre Evaristo Linhares Lima, Professor Titular de nossa Universidade,
da qual foi Vice-Reitor e também Presidente desta venerável Academia Sobralense
de Estudos e Letras nasceu em Santa Quitéria, cujo rincão tem estreita relação
com Sobral, por força de já ter integrado o nosso Município, sem que possamos olvidar
os laços familiares que temos com o nosso vizinho parceiro, haja vista as
propriedades que margeiam o Rio Jacurutu, afluente do Acaraú, então
pertencentes ao português João Pinto de Mesquita, casado com dona Teresa de Oliveira Magalhães,
irmã do sergipano Antônio Rodrigues Magalhães, esposo de dona Quitéria Marques
de Jesus nascida no Siupé, distrito de São Gonçalo do Amarante, também chamada
de Anacetaba, proprietários da Fazenda Caiçara, berço da civilização
sobralense. A filha única do patriarca João Pinto de Mesquita casa-se com
Vicente Alves da Fonseca, natural de Quixeramobim, tio legítimo de D. Guidinha
do Poço[9] o
qual se torna sogro de Francisco de Paula Pessoa, conhecido pela antonomásia de
Senador dos Bois, irmão de Pessoa Anta um dos heróis da Confederação do Equador,
sem falar no prestígio que esse ramo familiar ainda hoje
desfruta, na antiga Fidelíssima Cidade Januária da Ribeira do Acaraú, de há muito
a heráldica Cidade de Sobral.
Evaristo
fez o primário em Santa Quitéria e o ginasial no Liceu do Ceará, ingressando no
Seminário Arquidiocesano de Fortaleza, bacharelando-se em Filosofia na UECE e
em Direito na UFC, concluindo sete cursos de Pós-Graduação, donde se pode inferir
a sua vocação pelas letras, haja vista a sua larga experiência na área
educacional, tendo exercido não menos de trinta e três cargos, destacando-se:
Inspetor de Ensino no então Ministério de Educação e Cultura, Coordenador da Campanha
de Aperfeiçoamento do Magistério do Ceará, Professor da Faculdade Católica de
Filosofia do Ceará, Assessor do Departamento de Planejamento da Secretaria de
Ensino Superior do MEC na Capital Federal, além de vários outros.
Graças
ao seu descortino, proficiência e zelo, foi guindado à Vice-Reitoria da
Universidade Vale do Acaraú e também à Academia Sobralense de Estudos e Letras,
tendo participado de diversos cursos, seminários e congressos em suas viagens
culturais, quer no Brasil, quanto no exterior, tendo conhecido diversos países
da América do Sul, os Estados Unidos e a Europa, daí se podendo aquilatar o seu
amor pelas letras, levando nossa Academia a escolhê-lo para integrar os seus
quadros, vindo mais tarde a presidi-la. Deixou uma brilhante família no seu
consórcio com dona Nilsa Brígido Linhares, ocorrido a 29 de março de 1949,
nesta Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção,[10]
ao que tudo indica descendente do notável Jornalista João Brígido dos Santos,
Político (Deputado e Senador Estadual), Historiador, Professor do Liceu,
fundador do Jornal Unitário e autor do notável livro “Ceará Homens e Fatos”.
Finalizando
esta minha oração, quero assumir perante os colegas de Academia, Professores e
Estudantes, enfim a todos os sobralenses de nascimento, quanto daqueles que
adotaram esta Cidade como sua e engrandeceram-na com o seu trabalho, (esta
terra querida de D. José Tupinambá da Frota e de tantos outros), que farei tudo
o que estiver ao meu alcance, para cada vez mais enaltecer a Academia
Sobralense de Estudos e Letras, além de pugnar pela Grandeza desta Heráldica
Cidade de Sobral, já reconhecida aqui e alhures, haja vista as políticas
públicas implementadas nesta urbe, as quais foram acolhidas pelo Ministério da
Educação, diante da notoriedade e reconhecimento, inclusive de Organizações
Internacionais.[11]
MUITO OBRIGADO.
[1]Genitor do
saudoso Lustosa da Costa, exímio jornalista nascido na Paraíba e sobralense de coração,
o qual foi homenageado pelo então prefeito Cid Ferreira Gomes, dando o seu nome
ainda em vida, à Biblioteca Municipal de Sobral.
[2]Clóvis
Beviláqua fez tudo o que estava ao seu alcance para que fosse admitida
intelectual feminina, uma vez que sua esposa, D. Amélia, preenchia todos os
requisitos, mas por ser mulher, foi recusada por força estatutária, uma vez que
a Academia Brasileira de Letras, seguidora da Academia Francesa, não permitia o
ingresso de escritora. Anos depois foi afastado o tacanho entendimento, vindo a
ser eleita para a ABL, a escritora cearense Rachel de Queiroz, por sinal
descendente do casal Gabriel Augeri e Maria Magdalena Bocardi, precisamente do
Padre Domingos Carlos de Saboya, trisavô da extraordinária escritora.
[3]Recusou o
Baronato de Sobral, tendo sido o primeiro cearense a receber a Grã-Cruz da
Ordem de Cristo, a mais elevada Condecoração do Império do Brasil, Cavaleiro da
Ordem da Rosa, sem falar na dignidade de Fidalgo e Cavaleiro da Casa Imperial,
tendo sido Deputado e Senador do Império, Presidente das Províncias do Maranhão
e do Rio Grande do Sul, além de Ministro
do Supremo Tribunal de Justiça.
[4]Celso Mariz,
político, escritor e jornalista da Paraíba, cognominou o Padre Doutor José
Antônio Pereira Ibiapina de Apóstolo do Nordeste, o qual se acha em processo de
beatificação iniciada há vários anos através do Monsenhor Francisco Sadoc de
Araújo, fundador da Universidade Vale do Acaraú - UVA e seu primeiro Reitor,
além de Membro das Academias Cearense e Sobralense de Letras e do Instituto
Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, a par de Historiador e autor da
Cronologia Sobralense, obra de vulto composta de cinco volumes e de várias
outras.
[5]O Padre Antônio
Thomaz foi eleito o Príncipe dos Poetas Cearenses, em uma Eleição promovida
pelo Jornal O POVO, encabeçada por Demócrito Rocha, reinando de 1925 a 1941.
Até então os seus sonetos sequer tinham sido publicados.
[6]Apud Home –
Fato Histórico – Acervo de Abelardo Montenegro- Fortaleza - Cronologia Ilustrada de Fortaleza.
[7]Extraído do
pasquim do Bairro Parque Araxá - JPA de janeiro de 2012, postado por Juracy
Mendonça.
[9]Romance do
escritor cearense Oliveira Paiva, cuja obra trata justamente do assassinato do
marido de dona Guidinha, a mando dela.
[10]Do enlace
nasceram: Julius Cícero, Thália Maria, Cyntia Maria, Ana Lídia, José Guilherme,
Patrícia Helena, Nilsa e Sandra Linhares, além de Evaristo Linhares Lima Filho.
D Nilsa faleceu no dia dois de 11.2012 e o Professor Evaristo Linhares Lima aos
26 dias do mês de abril de 2014..
[11]Notícias extraídas da Internet
via Google,no dia 23.06.2015.
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